sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Livros: tudo o que você não pode deixar de ler - Cristiane Zschirnit...


Publicado pela Editora Globo em 2006. Possui 392 páginas. Tradução de Claudia Abeling.

Um excelente livro que fala sobre a importância de algumas obras dentro do seu contexto no mundo. Cristiane conta de forma divertida e agradável porque ler determinados livros.

Na introdução do livro ela nos pergunta qual preferimos Shakespeare ou Berti Karsunke. Mas quem diabos é Berti Karsunke? Na verdade é um nome inventado, mas o que ela quer dizer é que as pessoas fazem as escolhas que preferirem. Ninguém deve ser punido por não querer banhar-se em cultura. Se alguém prefere ir encontrar-se com um amigo num barzinho ao invés de bater um papo com Shakespeare num restaurante, não dever perseguido ou julgado por isso, afinal quem está perdendo com isso é a própria pessoa.

É interessante um trecho que ela menciona que “quem não satisfaz sua necessidade de fantasia com os livros antes de assistir a televisão, não desenvolve hábito de leitura forte” e explica porque.

Ela ainda diz que antigamente você tinha na escola uma orientação sobre suas leituras para que pudesse galgar o conhecimento como numa montanha até chegar ao topo do conhecimento. Hoje o conhecimento deixou de ser montanha e passou a ser mar, e muitos se perdem nesse mar de informações sem nenhum equipamento de orientação ou mapa do caminho. Por isso o livro que ela escreve se até apenas a tradição europeia. Ou seja, ela só fala de obras escritas por europeus, o que não quer dizer que não tenhamos excelentes escritores fora desse continente.

Cristiane divide seu livro em 15 temas: ‘Obras que descrevem o mundo', 'Amor', 'Política', 'Sexo', 'Economia', 'Mulheres', 'Civilização', 'Psique', 'Shakespeare', 'Modernos', 'Clássicos virtuais', 'Livros cult', 'Utopia - Mundo cyber', 'Crianças’.

Em Obras que descrevem o mundo o primeiro livro citado é a Bíblia. Sim, ela dá sua explicação de porque é um livro que não pode deixar de ser lido. Curioso? Leia o livro e descubra! Depois ela segue com Homero, Dante Alighieri, Miguel de Cervantes, Goethe, Balzac, Melville e James Joyce. Todos falando sobre o mundo.

No tema Amor ela escolhe obras como Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, Ligações Perigosas, Orgulho e Preconceito, Madame Bovary, entre outras. Em Política alguns autores citados são Maquiavel e Marx. Sobre Sexo, não podia faltar menção ao Marques de Sade.

Na Economia voltamos a ver Marx e curiosamente a obra famosa de Daniel Defoe ‘Robinson Crusoé’. É muito interessante a interpretação dessa obra sobre esse tema.

Para falar das mulheres nada melhor que ‘O Segundo Sexo’ de Simone de Beauvoir. E curioso, Mary Wollstonecraft foi uma ativista feminista e era nada menos que a mãe da autora da famosa obra Frankestein. Pena que não viveu para ver o sucesso da filha.

Para descrever a Civilização ela cita Molière, Rousseau, Diderot e Thomas Mann entre outros. E para explicar a Psique fala de Freud, Montaigne, Proust e mais alguns.

Depois ela entra no mérito de porque ler as obras de Shakespeare e sua importância para o mundo. Em seguida fala sobre os Modernos: Woolf, Eliot, Mann, Kafka, Döblin, Musil e Beckett. Dos Clássicos Triviais explana sobre as obras: Frankestein, Drácula, Sherlock Holmes, ...E o Vento Levou e Winnetou.
Sobre Livros Cult tem a vez Os sofrimentos do jovem Werther, O apanhador no campo de centeio, On the road, O lobo da estepe, e Geração X.

Como Utopia, discorre sobre A utopia de More, Francis Bacon, Tommaso Campanella, Well, Huxley, Orwell, Stanislaw lem e Gibson.
E finalmente sobre Crianças não podia deixar de faltar os adoráveis Charles Dickens e Mark Twain, além de Rosseau, Carroll, Lindgren e J. K. Rowling né? Harry Potter já é um clássico infanto-juvenil.

Todos os textos são instigantes e trazem curiosidades e coisas interessantes, mas infelizmente são cheios de spoilers. Ela destrincha algumas obras até o final e conta sem nenhum pudor o final da história. Então na minha opinião é um bom livro para entender melhor o valor de algumas obras, mas se pretende lê-las sugiro que pule os textos que falam dos livros que ainda não leu.

No final do livro temos a inclusão de um texto sobre Machado de Assis escrito João Adolfo Hansen, professor do departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade de São Paulo. Confesso que foi a parte mais maçante do livro. E não por causa de Machado é claro, mas porque o estilo do autor é muito diferente de Cristiane Zschirnt, o que causa um certo estranhamento, e também achei teórico e técnico demais para leigos. Ele faz análise do estilo de leitura e usa um linguajar que pra mim foi quase indecifrável. Um exemplo:

“A sintaxe gramaticalmente pura pareceria prever apenas significações claras, definidas ou unívocas; mas é justamente o que não ocorre, pois a escrita é construída como divergência de sintaxe e semântica.”

What???? Se eu fosse professor ou estudante de literatura talvez entendesse o que ele quis dizer, mas pra um leigo que importância tem isso? Ele explica a obra na visão da literatura, mas não diz a importância dela para o público em geral que não está pleiteando um lugar na Academia de Letras.

Mas no geral o livro é muito bom, e pra quem não se importa com spoilers, os textos instigam a ler o livro, você sente vontade tirar suas próprias conclusões da leituras das obras citadas. Vale muito a pena.

Cristiane Zschirnt é alemã, nasceu em Bremen em 1965. Estudou filologia inglesa, história da arte e filologia alemã em Hamburgo. Depois de doutorar-se em Zurique, passou a lecionar na Universidade de Hamburgo. Em 2001 publicou Shakespeare-ABC.

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